quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Massificar para sobreviver.


Com vários comentários sobre o propósito dos Jogos Olímpicos no Brasil e a belíssima conquista do guerreiro time brasileiro de basquetebol, escolhi direcionar a postagem desse mês para esse assunto.
Estive pensando como nossa modalidade pode se elevar aos próximos ciclos olímpicos, por isso quero porpor uma reflexão sobre MASSIFICAÇÃO.
Começarei com a definição dessa palavra:
massificação
(massificar + -ção)
s. f.
s. f.
Fenômeno Fenômeno pelo qual, numa sondagem, num inquérito, etc., um número crescente de indivíduos apresenta um número cada vez maior de características ou de combinações de características comuns.
Em minhas palavras: massificar é tornar algo praticável por muitas pessoas. Pense no que significaria a expressão: massificar o basquetebol. Agora responda a seguinte pergunta: “ O basquetebol está amplamente massificado no Brasil? Se você chegar a resposta sim, por favor me mande um e-mail e compartilhe comigo seus números, expectativas e projeções, se porém sua resposta seguir o caminho do não continue lendo essa postagem.
Como já disse em postagens anteriores sou professor da rede pública municipal de São Paulo, atuo numa comunidade carente e dirijo um projeto de basquetebol na minha escola. Atualmente, participam (Hoje conto com a participação de) 25 alunos da escola (de um universo de 600 alunos). Nossa quadra é boa, temos material para o treino (incluindo uma tabela com cesta, o que é raro nas escolas da rede), mas não temos uma adesão que se possa chamar de satisfatória. Diante disso, vou tentar explicar a razão desse resultado: o basquete caiu da segunda para a nona posição (de o esporte número dois para o número nove) no Brasil nos últimos 20 anos, ou seja, se tornou um esporte impopular (com pouquíssima popularidade). Por Nenhum jogo ser (é) vinculado na TV aberta a divulgação em massa fica limitada apenas aos que podem ter uma TV a cabo, ou seja, a modalidade não desperta a curiosidade e nem o interesse dos estudantes. (o que dificulta muito a divulgação para a grande massa). Na escola a modalidade caiu da terceira para a última posição (lugar) dos esportes mais praticados.
As razões se diferem nos âmbitos nação e escola, mas no final aponta para o mesmo  resultado: péssimo. Para se ter uma idéia do que estou falando, na dimensão escolar por exemplo, algumas redes públicas obrigam uma equipe de futsal que queira jogar campeonatos oficiais se inscreverem em uma equipe de basquetebol como parte do processo de inscrição, podendo não efetivá-la (se efetivar sua inscrição) caso não houvesse uma (haja tal) equipe para participar. O que acontece então com essas equipes? Bem, como bons brasileiros sempre encontram um “jeitinho” para tudo, os alunos inscritos para o futebol são os mesmos que participam dos jogos de basquete, incentivados pelo professor a passarem por essa “prova de fogo” por amor ao time e ao futebol, e também para se divertirem um pouco correndo atrás da bola. O que se esperar dos e os jogos de basquete nessas olimpíadas estudantis são horríveis em todas as categorias.
Outro problema muito sério que enxergo como barreira para o crescimento da qualidade do basquete em nosso país é o sistema esportivo instaurado no Brasil. Esse sistema concentra o esporte de nível nos clubes e não nas escolas. A capacidade de formação de atletas com expectativa de um futuro através do basquete se reduz drasticamente, ou seja, os clubes são pagos por sócios que inscrevem seus filhos nas equipes de formação, deixando poucas vagas para atletas talentosos que vem do ambiente escolar e que não são sócios de nenhum clube. Para mim esse sistema é falido e sem futuro, especialmente no ambiente da escola, pois elitiza o esporte num país de proporções continentais que tem um amplo universo de possibilidades, de descoberta de talentos e de atletas renomados. Não quero nem tocar na questão da incapacidade administrativa dos dirigentes dos clubes em tornar o basquetebol em um simples jogo, ao invés de um show de entretenimento onde famílias pudessem ir aos jogos e gozarem de um bom assento, segurança, shows nos intervalos e facilidades que estimulassem o consumo de alimentos/bebidas, gerando lucro e diversão. Além de despertar a paixão dos brasileiros pelo basquete (no molde atual já é um milagre os jogos terminarem sem morte,  zem jogos que mais parecem uma batalha Platônica de amor e ódio entre eternos “rivais medievais” chamados clubes, em uma arena chamada quadra, com carrascos chamados árbitros e sacerdotes chamados técnicos – que também se odeiam muito e jamais cooperam para formação de novos técnicos qualificados, com medo de perderem suas posições “episcopais” no mundo sagrado do ridículo circo de clubes brasileiros,- todos eles assistidos pelos “papinhas”, cartolinhas de clubes que investem míseros reais para “não parar com o basquete” em suas gestões, mas vamos deixar esse assunto para lá).
Minha mãe sempre me disse: bons exemplos existem para serem seguidos. Pensando nessa frase de minha mãe me perguntei: Como transformar uma modalidade impopular em um país em uma sensação? Minha resposta? Massificar tal modalidade! E como fazê-lo? Seguindo o bom exemplo de quem já está fazendo tal modalidade ser uma espetáculo, além de formar atletas apaixonados e especialistas.
Muitos podem comentar sobre a greve na NBA, mas precisam levar em consideração a atual situação financeira dos EUA, e também dos muitos anos da indústria bilionária que tem sido o basquete naquele país. Sem contar as eternas cenas que jamais esqueceremos como as deixadas por Michel Jordan, Larry Bird e Magic Jonhson. 
Pensando em como massificar o basquete, como torná-lo atraente novamente a milhares de alunos e muito mais acessível aqueles que querem viver dele, aqui vão alguns tópicos que poderíamos discutir. Vou colocá-los de maneira organizada e clara para desenhar em palavras o que sonho para nossa modalidade:
  •     Trazer a prerrogativa da escola como formadora de talentos no basquete, não os clubes (para isso o prazer da competitividade deve voltar à escola; professores especializados no basquete devem ser estimulados e contratados para treinarem equipes competitivas no ambiente escolar desde sua formação universitária; organização de torneios, premiações e honras de atletas para os vencedores das competições; destaque para alunos com grande rendimento na quadra e na sala de aula;  intercâmbios com escolas internacionais para o crescimento dos alunos atletas e o estimulo frequente a que esses alunos seguissem carreira no basquete).
  •     Toda escola deve ter equipes de treinamento no basquetebol com torneios intercalasses para todas as idades, cronologicamente adaptadas ao inicio da pratica esportiva, com seletivas para os melhores de cada classe para que possam representar a escola numa olimpíada escolar. Seria uma espécie de laboratório para selecionar os melhores de cada região, município, estado e assim por diante, até selecionarem os melhores do país para intercâmbios internacionais e etc.
  •      Os clubes profissionais deveriam investir mais no conforto da audiência e no marketing do basquetebol profissional, criando facilidades como segurança, conforto, entretenimento nos intervalos dos jogos (danças, shows, imagens em um telão gigante como um placar exibindo lances do jogo e etc). Os clubes deveriam se unir num esforço de divulgar o basquete em rede aberta (mesmo que precisassem pagar um horário num canal para tal) contando com os patrocinadores para isso e apresentando um verdadeiro show ao fazê-lo, pois através dessas ações atrairiam o patrocínio.
  •        As instâncias governamentais devem incentivar as universidades a fortalecerem seus departamentos atléticos para oferecerem bolsas de estudo custeadas pelo governo, aos alunos que se destaquem em sala de aula e na quadra.

  •       Uma escola permanente de técnicos deve ser iniciada, onde os técnicos mais velhos deveriam dividir seus conhecimentos do jogo com os técnicos novatos em sistemas de clínicas e palestras sistemáticas. Poderia ser custeadas por ambos os alunos dos cursos e ligas que pagariam por tais cursos de capacitação. O incentivo e o compartilhar das informações deve ser tão constante que a aprendizagem e o prazer em melhorar sejam naturais e realizadores. Os técnicos iniciantes não devem ser encarados como “ameaças”, mas como a continuidade e o futuro da profissão e modalidade.
Você deve estar pensando: “Isso não funciona no Brasil, só para o pêlo loiro e olhos azuis do norte”, se for isso o que está passando em sua mente agora, deixe-me te encorajar com outros brasileiros que estão dando uma aula de organização em sua modalidade.
Em 1984 o Brasil conquistou uma medalha de prata no voleibol, e essa geração ficou conhecida como “geração de prata”. Essa geração deixou um legado para as gerações futuras, parece que essa medalha de prata deixou um desejo imenso de experimentar o lugar mais alto do pódio. Desde 1984 os brasileiros têm organizados suas competições de voleibol, suas relações com a mídia, seu marketing e o mais importante a renovação dos atletas de alto nível e da seleção brasileira (e a maior parte desse avanço na renovação se dá pela massificação do voleibol, que tem lugar reservado na pratica dos alunos de todas as escolas do Brasil, se tornando o segundo esporte do país).
O resultado de tanta organização é o seguinte:
Ouro em 1992 e 2004 para os homens e ouro em 2008 para as mulheres, sem falar nas inúmeras conquistas de ligas mundiais que de verdade nem me lembro o número agora, só sei que são muitas.
Saquarema R.J é um nome conhecidíssimo no mundo, você sabe por quê? Não? Eu respondo, é porque o centro de excelência do voleibol está lá. Pessoas do mundo inteiro vêm para o Brasil a fim de aprender nosso voleibol, as seleções do mundo inteiro estudam nosso estilo de jogo para tentar nos derrotar e a admiração mundial pelo nosso vôlei está em todos os continentes.
Acho que não preciso continuar não é mesmo? Eles são brasileiros como nós (os que amam o basquetebol), mas com a diferença de quererem fazer a coisa direito.
É possível sim levantarmos nosso basquetebol e, a primeira grande ação que podemos fazer é massificá-lo na escola pública.
Termino essa postagem deixando um desafio de reflexão para todos os que lêem essas linhas: Vamos massificar o basquetebol e organizá-lo de uma maneira que o mundo inteiro olhe e diga “esses caras são bons”.
Só colocando em prática os excelentes exemplos de massificação e organização do basquetebol e de outras modalidades que vemos no Brasil e no mundo é que poderemos ver de novo nossas seleções brilharem no âmbito mundial como a conquista do Pan 1987 pela seleção de Oscar, Marcel e companhia que mudou o rumo do basquete mundial culminando com o “dream team” de Barcelona 1992 e o mundial de 1994 conquistado pela seleção de Hortência, Paula e todas aquelas atletas fantásticas que foram prata em 1996 e que já há 15 anos não sobem ao pódio, sem falar da seleção masculina que não foi nas edições de Sidney, Atenas e Pequim dos jogos Olímpicos.
Vamos massificar! Fazer nosso querido basquete conhecido de nossas crianças e adolescentes para que nossa modalidade não caia no esquecimento e no saudosismo de conquistas passadas, e nem se reduza a pratica de uns poucos apaixonados e incompetentes que esconderam o basquete dentro de um baú fechado com sete chaves e depois de 15 anos digam: “fique aqui e não cresça” porque nós mandamos no basquetebol do Brasil.
Com a vaga que o time brasileiro de basquetebol conquistou na semana passada, dia 07/09, com uma diferença de 7 pontos e sem estrelas, nos dá a oportunidade de validar e consolidar o conceito da massificação.
Pense, compartilhe e me confronte caso você concorde comigo ou não.
Forte abraço e até mês que vem.
Forte abraço.Prof. Denilson Seckler
CREF: 086643-G/SP
RF:7931964/1